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Pode isso? Um olhar sobre o humor no contexto da comunicação política nas Redes.

Pode isso? Um olhar sobre o humor no contexto da comunicação política nas Redes.
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Se você trabalha com conteúdo para Redes Sociais, vai reconhecer o tamanho do desafio que é encontrar o equilíbrio entre liberdade, ousadia e respeito aos limites do outro.

Você já estava por aí, quando uma Prefs virou a queridinha dos “Social Media” do Brasil. Também estava por perto quando uma grande instituição financeira respondeu criativamente a um cliente, por meio de uma poesia, e certamente sabe que houve uma época em que não se fazia uma palestra em eventos xoxo-midiáticos sem que um Pinguim aparecesse para mostrar como se fazia varejo com humor, na Rede.

Nessa mesma época, você viu, estourava nas Redes Sociais, um perfil debochado de política, que com milhões de seguidores e muita visibilidade, passou até mesmo a fazer parte do universo de canais com os quais a comunicação da então presidência passou a dialogar. De lá para cá os “estagiários” se soltaram e a festa virou moda. Deu bom. Mas em alguns casos, também deu ruim. Resolvemos refletir um pouco sobre isso…

O humor é um recurso poderoso para questionarmos o cotidiano, uma ferramenta e tanto para aliviar o peso da realidade estampada nas redes e nas ruas, um instrumento essencial para promover reflexão e ampliar a propagação de debates buscando entendimento sobre questões importantes da nossa comunidade. Mas fica a provocação: como utilizar humor na comunicação política dentro da rede e ir além da piada, pela piada?

Tá querendo fazer graça?

Antes de sair por aí fazendo graça é preciso entender alguns pontos fundamentais. O primeiro passo importante é refletir se a utilização do humor tem espaço na persona da sua marca e na forma como ela se coloca nas redes sociais. Lembre-se que o bom conteúdo presta um serviço. Portanto, conteúdo não é fim, é o meio, e deve ter utilidade. Neste contexto, a forma como seu conteúdo se apresenta é determinante no jogo de alcançar e engajar pessoas.

Conteúdo de humor, ironia, irreverência, paródia ou o velho deboche, se feito no impulso, pode não passar de uma piada vazia, desnecessária e perigosa. Nas redes, principalmente lá, o que não ajuda, atrapalha. E muito! Mais que isso, o humor, quando descasado do contexto, da forma e do conteúdo ideal, pode ser fatal.

Vimos inicialmente que é preciso avaliar se isso cabe para sua marca. Mas tem outra questão tão ou mais importante que também precisa ser levada em consideração: cabe para seu público?

Há inúmeros exemplos catastróficos de tentativas de fazer graça que trouxeram uma baita dor de cabeça em vários setores: marcas comerciais, celebridades, personalidades da política. Uma hora dessas, a gente faz um conteúdo só sobre como os perfis de entidades públicas e de governo andam pirando por aí, enquanto tentam ser engraçadinhos. Aqui, vamos nos ater ao básico.

Com quem você está fazendo graça?

Rir dos outros é perigoso, enquanto rir com os outros.. Bem, aí é outra história. A questão prioritária aqui é saber se seu público está disposto a rir com você. Do contrário você vai soar mais como o tio do Pavê estragando a ceia de Natal.

Mesmo a piada certa, na hora errada pode ser uma morte horrível para a sua carreira de humorista.

Em se tratando de perfis de entidades públicas e atores políticos, o cuidado deve ser redobrado. Por um motivo muito simples: a tendência é que você esteja falando com um público heterogêneo, plural, com bagagens, referências e expectativas completamente distintas, quando não dissonantes entre si. Já viu que não é moleza?

Mesmo dentro dessa heterogeneidade, é possível encontrar um caminho, desde que você descubra com quem está falando, saiba quem você é, qual é a sua voz e o que pretende no longo prazo.

Sua comunicação não pode ser engraçadinha uma vez na vida outra na morte. Do contrário, seu conteúdo vai soar completamente estranho aos olhos da sua comunidade.

Agora, não dá pra ficar tentando decifrar o perfil do seu público apenas por meio de palpites. Coloque a mão na massa, recorra aos dados, trabalhe a observação, faça entrevistas e se apoie em todas as ferramentas possíveis para compreender e estruturar seu entendimento sobre o público com o qual você dialoga ou pretende dialogar. Público não: públicos. As chances são grandes de você, como antecipado acima, na qualidade de entidade pública ou agente político, candidato ou mandatário, precisar lidar com mais de um segmento.

Pois bem. Descubra como pensam, o que sentem, o que ouvem, dizem, o que temem ou anseiam, quais seus limites, valores, como é sua rotina, quem são, como vivem, o que comem… Bom, era para ser uma piada.

Mapa de Empatia é uma boa ferramenta para te ajudar a compreender o público presente nos canais digitais do seu assessorado ou da sua entidade. Assim, as chances de entregar um humor que o público entenda aumentam e as possibilidades de derrapar no tom diminuem. Saber mais sobre seu público é a chave para que você consiga equilibrar ousadia e responsabilidade, humor e utilidade, sobretudo, porque você saberá onde está pisando.

Transparência é condição

Em tempos de posts patrocinados, mídia, disputa por atenção, competição pelo tempo das pessoas, enxurrada de conteúdos, profusão de influenciadores e, certa enorme desconfiança quanto a políticos e à política, transparência, humildade e humanidade podem ser o seu maior capital.

Mais que isso, esses recursos, são sua margem de contenção para quando as coisas não saírem como esperado. Afinal, quem nunca errou a mão? A questão aqui é o quanto você tem capital social para corrigir os rumos de uma conversa, quando as coisas desandam. Isto porque, se conteúdo não é uma ciência exata, conteúdo de humor, será ainda menos. Você estará sempre no limiar entre o sucesso meteórico e o fracasso retumbante.

Exageros à parte, feitos apenas para ilustrar, o recado é o seguinte: humor não serve para estar no meio termo, na zona de conforto. Humor só tem valor se aponta para os extremos. Se não causar, não serve. Se for para fazer mais do mesmo, nem comece. Se não souber brincar, nem desça para o playground… Ok, chega.

A questão é que se você não provocar nenhuma emoção com seu conteúdo, ele será apenas mais um post circulando por aí. Emocionar, fazer rir, chorar, refletir, e gerar identificação com o seu público vale mais que um punhado de likes. Disto ninguém duvida! É a tal memória afetiva. Fazer rir, é, entre as emoções, certamente aquela que mais abre portas.

Por fim…

Então, no final das contas. Dá para usar humor com alguma margem de segurança aceitável, ou é melhor deixar para lá e se concentrar em conteúdos que te traga mais paz do que razão? Aí que está a questão: se for para fazer, faça direito, faça com inteligência e faça sabendo o que você está fazendo.

No final das contas, recorra a uma mistura quase infalível de bom senso e dados, não vai enfiando o pé na jaca logo de cara e construa, aos poucos, essa legitimidade para seu perfil. Fazer humor apenas para ser engraçadinho não vai te levar a nada.

Não tem muito segredo. Ouça as pessoas, experimente, mas reflita sobre as críticas. Seja gentil, exercite a empatia, acompanhe as interações, entenda e atenda as demandas que surgirem a partir das conversas, sempre com respeito à diversidade, ao direito do outro, ao lugar do outro, sempre aberto ao relacionamento e disponível para aprender. Se você mantiver tudo isso em mente, só terá motivos para sorrir. Entendeu? Tá vendo? Uma piada infame.

Por Mariana Lélis e Thiago Ribeiro

Vamos debater?

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